Especial 20 de novembro de 2023 – Dia da Consciência Negra

Após quatro anos de retrocesso econômico e social, o ano de 2023 traz uma oportunidade para reacender o debate sobre a construção da igualdade entre negros e não negros no Brasil. O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) destaca a persistência das desigualdades raciais no mercado de trabalho, mesmo diante de alguns sinais de recuperação econômica.

Cenário Atual e Perspectivas Positivas:

Em 2022, o país enfrentou precarização na ocupação e queda de renda para a população em geral, aprofundando as disparidades raciais no mercado de trabalho. Entretanto, em 2023, a melhora na atividade econômica surpreendeu positivamente, com expectativa de crescimento do PIB em torno de 3%. Essa recuperação refletiu na redução da taxa de desocupação e no aumento do emprego formal. Inflação mais baixa e aumento do salário mínimo contribuíram para a recuperação dos rendimentos médios dos trabalhadores.

Apesar dessas melhorias gerais, o mercado de trabalho continua sendo um espaço de reprodução das desigualdades raciais. A inserção e as oportunidades de ascensão são significativamente desiguais para a população preta e parda. As mulheres negras enfrentam desafios adicionais, combinando desigualdades de raça e gênero.

Principais Dados Reveladores:

1. **Baixa Representatividade em Cargos de Liderança:**

– Mesmo representando 56,1% da população em idade de trabalhar, apenas 33,7% dos negros ocupam cargos de direção e gerência.

– A discrepância é notável, com um em cada 48 trabalhadores negros em cargos de gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um para 18 trabalhadores.

2. **Taxa de Desocupação:**

– Entre os desocupados, 65,1% são negros, destacando uma taxa de desocupação das mulheres negras de 11,7%, equivalente a períodos críticos enfrentados pelas pessoas não negras durante a pandemia.

3. **Trabalho Desprotegido e Desigualdade Salarial:**

– Cerca de 46% dos negros estão em trabalhos desprotegidos, em comparação com 34% dos não negros.

– Mulheres negras enfrentam uma proporção ainda maior, com 16% ocupadas como empregadas domésticas.

– Os negros ganham, em média, 39,2% a menos do que os não negros em todas as posições na ocupação.

Discriminação na Busca por Vagas:

A discriminação racial se manifesta na dificuldade de inserção dos negros no mercado de trabalho, com uma taxa de desocupação sistematicamente superior. Mesmo representando mais da metade da população em idade de trabalhar, os negros constituem 65,1% dos desocupados.

Piores Postos de Trabalho:

Quando conseguem emprego, os negros enfrentam condições mais desfavoráveis, ocupando predominantemente postos precários e enfrentando dificuldades de ascensão profissional. Apenas 2,1% dos trabalhadores negros estão em cargos de direção ou gerência.

Perspectivas de Mudança:

Mesmo com indicadores positivos na economia, o mercado de trabalho persiste em reproduzir desigualdades sociais. As mulheres negras enfrentam obstáculos adicionais devido à discriminação por raça e gênero.

O governo anunciou políticas específicas em 2023, incluindo igualdade salarial e a criação do Ministério da Igualdade Racial. Essas medidas visam combater as desigualdades, especialmente no mercado de trabalho. A estabilidade política, a melhora econômica e a redução da inflação podem contribuir para um ambiente mais propício às negociações coletivas e à implementação de políticas igualitárias.

No entanto, o caminho para uma sociedade mais justa e desenvolvida exige esforços contínuos. É crucial promover a sensibilização e garantir que todas as políticas públicas sejam desenhadas e implementadas com o objetivo de abordar as desigualdades, especialmente no mercado de trabalho. O desafio é grande, mas a determinação e agilidade são essenciais para percorrer esse trajeto em direção a uma sociedade mais equitativa.

*Texto baseado nas informações fornecidas pelo Dieese, em 20 de novembro de 2023: https://www.dieese.org.br/boletimespecial/2023/conscienciaNegra2023.html.*